Saiba como é o free walking tour da Pequena África
Já ouviu falar do circuito histórico do Instituto Pretos Novos (IPN), que está ganhando cada vez mais popularidade entre moradores e turistas da cidade do Rio de Janeiro (RJ)? Saiba como é o free walking tour da Pequena África.
Realizado na região central, o trajeto passa por pontos que identificam marcas fundamentais das atrocidades do período escravagista no Brasil e a riqueza herdada das nossas raízes africanas.
Isto porque o Rio de Janeiro foi capital do Império e da República do Brasil, entre 1763 e 1960. Então, se você gosta de turismo histórico, não tem como ignorar a cidade maravilhosa na sua viagem.
O trajeto inclui, por exemplo, visitas aos sítios arqueológicos do Cais do Valongo – principal ponto de desembarque de africanos escravizados em todas as Américas; e do Cemitério dos Pretos Novos – que fica dentro do Museu Memorial Pretos Novos.
O IPN, organização não governamental dedicada a preservar o patrimônio material e imaterial africano e afro-brasileiro, oferece, aos sábados pela manhã, o tour gratuito “Circuito Histórico de Herança Africana”.
Neste artigo, você vai ver como participar e o que vai experienciar nesta verdadeira aula de história e de letramento racial.
Se liga no que você vai ver na Pequena África
Morro da Conceiçao e Pedra do Sal
O Morro da Conceição e seu entorno ajudam a contar as primeiras histórias da Zona Portuária do Rio, onde a movimentação comercial e populacional do período Colonial aconteciam de maneira estruturante.
O circuito começa no Largo São Francisco da Prainha, localizado no sopé do Morro da Conceição, onde outrora (antes dos incontáveis aterros feitos no Rio de Janeiro) existiu uma praia.
Ali, onde havia uma concentração da população negra e muitos terreiros de candomblé, é possível ver um antigo casario que se acredita ter sido um dos locais de acolhimento com comida e dormitório para estivadores à época.
Logo adiante, temos acesso à famosa Pedra do Sal, berço do samba carioca.
Atualmente, esta região é ponto tradicional da boemia carioca e programa certo para quem quer curtir uma verdadeira roda de samba na cidade.
Certamente entender um pouco do que aconteceu no passado trará novos sentidos à experiência de quem frequenta os bares e a disputada programação local.
Protagonistas da nossa história
Outro aprendizado superinteressante do free walking tour da Pequena África é a oportunidade de conhecer alguns dos personagens negros importantes e geralmente apagados da história oficial.
Já no início, vemos a estátua da bailarina e coreógrafa Mercedes Baptista, primeira mulher negra a integrar o corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e criadora do estilo de balé influenciado pela cultura afrodescendente e revolucionária dos desfiles de escola de samba.
E os principais personagens que moldaram o samba como conhecemos hoje o fizeram inicialmente nesta região:
Hilário Jovino fundou o “Rei de Ouro”, em 1893, considerado um marco na tradição dos ranchos carnavalescos. Jovino não somente é pioneiro no desenvolvimento do carnaval carioca como na consolidação dos mestres-salas e porta-bandeiras.
Tia Ciata, baiana de Santo Amaro, morou na Pedra do Sal logo que chegou ao Rio aos 22 anos. Iniciada no Candomblé, continuou os preceitos do Santo na casa de João Alabá.
Também trouxe consigo a figura das Tias Baianas e seus quitutes e promoveu as rodas que permitiram encontros entre os músicos e filhos de santo que sedimentaram o samba carioca.
Aproveite para conhecer a Casa Tia Ciata localizada aos pés do Jardim Suspenso do Valongo. Só não se esqueça de conferir os dias e horários de funcionamento.
Donga, compositor do primeiro samba gravado “Pelo Telefone”; e Pixinguinha, um dos grandes instrumentistas brasileiros e principal nome do Choro, frequentaram as rodas.
Junto com eles, João da Baiana, músico que introduziu o pandeiro no samba; e Heitor dos Prazeres – multiartista e um dos pioneiros na composição de sambas; eram alguns dos nomes que frequentavam a região da Pedra do Sal.
Cais do Valongo e Cemitério Pretos Novos
Faz parte do Circuito a visita a dois sítios arqueológicos que resgatam a história cruel do tráfico negreiro: Cais do Valongo e Cemitério Pretos Novos.
As ruínas do Cais do Valongo, descortinadas durante as obras do Porto Maravilha, em 2011, entraram para a lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas (Unesco) em 2017.
Trata-se do principal cais de desembarque de africanos escravizados em todas as Américas e o único que se preservou materialmente. O Brasil recebeu aproximadamente 4 milhões de pessoas sequestradas da África por mais de três séculos. Cerca de 1 milhão delas chegaram pelo Rio.
O Cemitério dos Pretos Novos foi descoberto por um acaso pela família Guimarães ao iniciar obras no seu terreno em 1996, posteriormente transformado no Museu Memorial Pretos Novos.
No local, podemos ver os vestígios arqueológicos de valas aonde foram depositados restos mortais de dezenas de milhares de africanos explorados.
Nesta região também funcionaram o Mercado de Escravizados, e o Lazareto – grandes espaços para onde eram levados os escravizados enfermos.
De cima do Jardim Suspenso do Valongo é possível visualizar casarões onde acredita-se realizava-se a venda de pessoas escravizadas à época.
Dicas importantes para o walking tour
Saiba quando e onde ocorre o Circuito
O free walking tour da Pequena África ocorre aos sábados, às 9h, com ponto de encontro no Largo da Prainha.
Endereço: altura da rua Sacadura Cabral, nº 75, Saúde – em frente à estátua da bailarina Mercedes Batista.
O percurso tem cerca de 2h30 e 2,5 km de distância, passando por aproximadamente 11 pontos.
Todos entre os bairros da Gamboa e Saúde – na região central da capital carioca.
A caminhada ocorre em áreas planas, mas também há subidas de escadas e pequenas ladeiras.
Estes locais exigem mais atenção para evitar quedas do que necessariamente grande preparo físico.
Veja como retirar ingressos para o Circuito gratuito do IPN
As agendas semanais do walking tour gratuito são divulgadas no perfil oficial do IPN no Instagram, onde você tem acesso ao link para inscrição e retirada de até dois ingressos por pessoa.
Os ingressos são enviados por email aos inscritos e não precisam ser impressos. Basta baixar e mostrar o QR Code no celular ao guia responsável, no dia.
Escolha bem o que vestir e levar durante o trajeto
Utilize roupas leves e calçado adequado, como tênis, para que a caminhada fique confortável e segura.
Consulte sempre a meteorologia para avaliar usar chapéu, boné e/ou filtro solar em dias de calor; e capa e/ou guarda-chuva nos dias de chuva.
Atenção: em dias de chuvas fortes, é importante confirmar se o circuito não será cancelado.
Na metade do circuito, é realizada uma parada em uma praça onde moradores vendem bebidas, lanche e outros produtos. Aproveite a oportunidade para contribuir com o comércio local.
Fique atento à segurança
Durante 100% do trajeto, o grupo é acompanhado por guia credenciado e passa por locais de grande movimentação turística.
É comum se deparar com situações da realidade social de uma metrópole, como lixo e pessoas em situação de rua.
Mas, de forma geral, a sensação de segurança permanece durante toda a programação.
O importante é manter a atenção e ser preventivo usando celular em pontos mais críticos e manter bolsas próximas ao corpo é sempre a melhor opção.em lugares aparentemente mais críticos, ser preventivo
Outro cuidado é estar atento nos momentos de deslocamento na chegada e saída dos pontos de encontro do circuito.
Muito bom!!!